
O filme Nomadland, dirigido por Chloé Zhao, conquistou o público e a crítica ao retratar de forma poética e sensível a vida de uma mulher que, após perder quase tudo, decide adotar um estilo de vida nômade. Lançado em 2020 e inspirado no livro Nomadland: Surviving America in the Twenty-First Century de Jessica Bruder, o longa levou diversos prêmios importantes, incluindo três Oscars, entre eles o de Melhor Filme. Mas o que torna Nomadland uma obra tão especial? Ao explorar temas como a resiliência humana, o significado do lar e a busca por uma nova identidade, o filme oferece uma visão intimista e, ao mesmo tempo, profunda da vida na estrada.
Sinopse: Uma Jornada de Redescoberta
A trama acompanha Fern, interpretada por Frances McDormand, uma mulher que perdeu o emprego e a estabilidade financeira após o fechamento da fábrica da cidade onde vivia e trabalhava com o marido, que faleceu pouco antes. Sem um lar fixo e sem muitas opções de emprego, Fern decide vender suas poucas posses e comprar uma van para iniciar uma vida nômade. Ao longo do filme, ela viaja pelo oeste americano, participando de trabalhos temporários e conhecendo outras pessoas que, por diferentes razões, optaram por viver na estrada.
O filme mostra a jornada de Fern enquanto ela tenta lidar com a perda, construir novas conexões e encontrar sentido em uma vida que muitos considerariam instável e solitária. Essa narrativa permite que o público experimente um pouco da liberdade que o estilo de vida nômade pode proporcionar, ao mesmo tempo em que aborda os desafios enfrentados por quem vive dessa forma, em busca de um propósito em meio às incertezas.
Data de Lançamento e Recepção do Público
Nomadland foi lançado oficialmente em 11 de setembro de 2020, estreando no Festival de Cinema de Veneza, onde imediatamente recebeu aclamação da crítica. A diretora Chloé Zhao foi elogiada por seu estilo único de contar histórias, mesclando ficção e realidade de maneira a criar uma experiência envolvente e emocional. No decorrer de 2020 e 2021, o filme foi amplamente exibido e chegou ao público de diversos países por meio de plataformas de streaming, como o Hulu. Esse lançamento em um ano marcado pela pandemia tornou o filme ainda mais significativo, uma vez que muitos passaram a refletir sobre sua própria relação com o lar e as mudanças que a vida pode trazer de maneira inesperada.
Elenco: Frances McDormand e uma Equipe de Nômades Reais
Frances McDormand, que também foi produtora do filme, entrega uma atuação intensa e autêntica como Fern. Seu trabalho foi amplamente elogiado e lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz. Em Nomadland, McDormand não está apenas interpretando uma personagem; ela se coloca em situações reais, interagindo com nômades de verdade, o que confere um realismo impressionante à narrativa. Ao lado dela, estão atores não-profissionais como Linda May, Charlene Swankie e Bob Wells, que representam a si mesmos no filme e compartilham suas histórias pessoais. Essa escolha de elenco trouxe uma riqueza e autenticidade únicas para o filme, que não teria o mesmo impacto sem esses relatos de vida reais.
Chloé Zhao também contribuiu para o tom documental ao utilizar cenários reais e filmar em locações naturais, o que intensifica a sensação de imersão. Ela soube captar a beleza da paisagem americana, das estradas desertas ao deserto, e criar uma atmosfera que reflete o estado emocional dos personagens, especialmente o de Fern. Esse elenco diverso e verdadeiro, combinado à abordagem de Zhao, transforma Nomadland em uma obra que vai além do entretenimento, tornando-se quase uma experiência meditativa.
A Trilha Sonora e a Atmosfera do Filme
A trilha sonora do filme, composta por Ludovico Einaudi, é um elemento essencial que contribui para a ambientação e o tom melancólico de Nomadland. As composições suaves e introspectivas acompanham Fern em sua jornada, reforçando a solidão e a beleza que ela encontra na vida nômade. A música, junto com as paisagens majestosas do oeste americano, como as formações rochosas e os céus vastos e abertos, cria uma atmosfera de contemplação que transporta o espectador para o mundo de Fern.
Essa escolha de trilha sonora foi crucial para o impacto emocional do filme, pois permite que o público sinta a solidão, mas também a paz que Fern encontra nas pequenas coisas do cotidiano, como cozinhar ao ar livre ou conversar com outros nômades ao redor de uma fogueira. Esse clima imersivo é um dos motivos pelo qual o filme foi amplamente elogiado e tocou o coração de tantas pessoas.
Temas Principais: Resiliência, Comunidade e a Busca por Liberdade
Nomadland é mais do que a história de uma mulher que perdeu seu lar; é uma reflexão sobre o que significa pertencer a algum lugar. O filme explora a resiliência humana diante das adversidades e a busca por uma nova identidade quando tudo o que parecia certo se perde. Fern não está sozinha em sua jornada, e um dos aspectos mais bonitos do filme é a forma como a diretora retrata a comunidade de nômades que ela encontra pelo caminho. Essas pessoas, que abriram mão de uma vida tradicional, formam laços profundos entre si, compartilhando conselhos, experiências e momentos de companheirismo.
Outro tema fundamental é a liberdade que esse estilo de vida proporciona. Fern vive sem as limitações de um endereço fixo e, embora isso traga incertezas, também significa que ela pode se reinventar e explorar novos horizontes. Nomadland questiona as convenções sociais e os valores que a sociedade costuma associar ao sucesso, propondo uma visão mais ampla do que realmente importa na vida. Para muitos, o filme é uma celebração de uma forma de liberdade que, embora pareça extrema, representa um tipo de escolha autêntica e corajosa.
Direção e Estilo Visual: A Arte de Chloé Zhao
Chloé Zhao é conhecida por sua habilidade em criar filmes que mesclam ficção com realidade, e Nomadland não é exceção. A diretora optou por um estilo visual naturalista, sem o uso de iluminação artificial ou cenários montados. A câmera segue Fern de maneira quase documental, observando seus gestos e expressões de forma íntima, mas sem invadir seu espaço. Essa escolha estilística permite que o espectador se sinta um observador, quase como se estivesse ao lado da personagem durante cada etapa de sua jornada.
Além disso, Zhao utiliza as paisagens americanas como um reflexo das emoções da protagonista. As vastas áreas desabitadas e os horizontes infinitos funcionam como uma metáfora para o vazio e a liberdade que Fern sente. Em vários momentos, o filme quase parece uma pintura em movimento, destacando a beleza e a brutalidade do mundo ao redor. Esse estilo visual é um dos aspectos que tornam Nomadland uma obra cinematográfica única, combinando beleza e simplicidade com uma profundidade emocional marcante.
Reflexões e Legado de Nomadland
Nomadland é um filme que, mesmo após os créditos finais, continua a ressoar no público. A jornada de Fern levanta questões profundas sobre o que é essencial na vida e sobre a necessidade de redefinir o lar e a família em um mundo em constante mudança. O filme desafia o espectador a refletir sobre suas próprias escolhas e sobre o peso das expectativas sociais. Além disso, ao focar em pessoas reais e em histórias de vida autênticas, ele nos lembra que existem muitas formas de viver e que cada uma tem seu valor.
Esse impacto emocional e filosófico de Nomadland é um dos motivos pelos quais ele se tornou uma obra tão memorável. A história de Fern é, de certa forma, a história de muitos que enfrentaram dificuldades e ainda assim encontraram forças para continuar. Mesmo que o estilo de vida nômade não seja para todos, o filme celebra a coragem e a resiliência daqueles que, como Fern, encontram sentido em seu próprio caminho.
Em última análise, Nomadland não é apenas um filme sobre a vida na estrada, mas uma meditação sobre o que significa ser humano. Ele oferece uma nova perspectiva sobre temas universais e nos inspira a reconsiderar nossas próprias escolhas e valores. A mensagem que fica é de que, independentemente das circunstâncias, sempre existe a possibilidade de encontrar algo belo e significativo, seja em uma pequena comunidade nômade ou em qualquer outro lugar do mundo.

Bruno Revelant é o autor e idealizador do Guia do Filme, um site dedicado ao universo do cinema, oferecendo resenhas, críticas, curiosidades e informações sobre produções de diversos gêneros e épocas. Apaixonado pela sétima arte, Luiz Carlos transformou seu interesse por filmes em uma plataforma acessível e informativa, onde compartilha análises detalhadas e sugestões para cinéfilos de todos os gostos. Com uma linguagem envolvente e crítica apurada, ele busca ajudar os leitores a descobrir novas produções e clássicos inesquecíveis, fazendo do Guia do Filme uma referência para quem procura inspiração na hora de escolher o que assistir.